quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Caminho Francês de Santiago de Compostela


"Até ao início do século XII, muitos dos que percorriam a Ruta Jacobea tinham a noção de que transitavam por uma metáfora enorme e precisa da vida. Na verdade, ainda hoje é a melhor que o engenho humano concebeu. Esses fiéis encaravam a sua rota nos frondosos Pirenéus franceses, rodeados por vegetação e água, como representação perfeita da infância. Depois, com o passar do tempo, iam amadurecendo ao entrar em terrenos mais planos, terras férteis de La Rioja ou Aragão, que evocavam a adolescência e a plenitude. Ao entrarem em Castela, todo esse esforço se desfazia em pó. A secura e aspereza do Caminho em Burgos ou Leão eram a encarnação ideal da velhice e da morte, recebendo uma lição inestimável sobre a fugacidade da existência. Mas, Julia, todos eles sabiam que ao chegarem a Leão ainda lhes restava mais um trecho para percorrerem. O do Paraíso. Entusiasmado, atravessavam por O Cebreiro e entravam na Galiza exuberante, rica em árvores e regatos. Atravessavam-na assombrados até alcançarem Santiago e aqui, depois de quase oitocentos quilómetros a pé, neste lugar onde nos encontramos [Pórtico da Glória], acontecia o milagre. (...) Os peregrinos, depois de percorrerem o Caminho desde a infância até à morte e mais além, chegavam aqui e descobriam que também eles se podiam transformar em luz e continuar... a viver." (in O Anjo Perdido de Javier Sierra).
Fotografia tirada em Ponte Sampaio, Pontevedra, no Caminho Português de Santiago de Compostela, no dia 8 de setembro de 2006, com a Mónica.

Sem comentários: