sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vilarinho da Furna


Esta albufeira fica localizada no concelho de Terras de Bouro e é alimentada pelo rio Homem.
Ficou conhecida por ter submergido, no ano de 1971, a pequena aldeia comunitária de Vilarinho da Furna, da freguesia de São João do Campo.
Fica encaixada entre a serra Amarela e a serra do Gerês e próximo da confluência do ribeiro das Furnas com o rio Homem, numa zona do vale um pouco mais largo, onde o rio se acalmava, apresentando poços fundos e transparentes e nas redondezas cavernas e furnas de granito.
Vilarinho da Furna tinha as suas leis, os seus hábitos próprios, as suas terras e o seu gado, a sua própria organização e modo de vida únicos, as suas gentes, tornando-a numa aldeia com uma riqueza etnográfica também única. É possível que alguns dos traços da forma de estar e viver desta comunidade derivasse da cultura dos povos pastores e granadeiros indo-europeus, provavelmente lá introduzidos por migrações pré-romanas e suevas.
Em 1971 foi efetuado um documentário de longa-metragem, ainda em 16 mm, pelo realizador António Campos.
Para tentar salvaguardar as riquezas culturais de uma aldeia comunitária desaparecida debaixo de água, foi inaugurado em 1981 o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna.
Depois de os seus habitantes terem saído à força para a aldeia ser ocupada pelas águas da albufeira, estes ainda se juntam no dia de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira da aldeia (8 de dezembro), onde recordam as velhas festas. Em 1985 estes encontros foram reforçados com a criação de "A Furna" (Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna), com o objectivo da defesa, valorização e promoção do património cultural, colectivo e/ou comunitário do antigo povo da aldeia desaparecida.
David Afonso de Carvalho realizou o pequeno filme "Modelação do passado de Vilarinho da Furna", no âmbito da dissertação para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura.
Um dos grandes entusiastas do Gerês, das suas paisagens e das suas gentes, deixou-nos este poema dos dolorosos momentos de abandono:
Requiem
Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
Aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.
Miguel Torga (Barragem de Vilarinho da Furna, 18 de julho de 1976)
A barragem foi inaugurada a 21 de maio de 1972 pelo Almirante Américo Tomás, após benção por D. Francisco Maria da Silva, Arcebispo Primaz de Braga.
Nos anos de maior seca, a aldeia emerge das águas e, vale a pena uma visita e sentir o silêncio do local.

2 comentários:

Maria do Sol disse...

As coisas que eu aprendo...
Uma nota de humor se me permites, Rui: será que existe também um rio Mulher?

Parabéns pela cultura com que nos brindas. Serviço público, acredita. Precisa-se...
Beijinho

Lucy Bream - Atelier D'Artes disse...

A toponímia do referido "Rio Homem" não tem nada a ver com uma homenagem ao "Homem" como ser humano.
Deixo esta curiosidade como tema de pesquisa para o nosso "ARKEOLOGISTA".

Parabéns pelo excelente artigo.
Obrigado.
Um grande Abraço.